MEIAC_GV 1.0 - transio e tecnofaniaA) o projectoB) obras portuguesasC) endereosA) o projectoPara ser exacto, diria que o papel pioneiro do MEIAC ao acolher a proposta de criao de uma Galeria Virtual teve a sua origem no xito da apresentao do projecto Parque Museu Virtual, em 1996. Indo ao encontro da viso estratgica da Junta da Extremadura sobre as direces do desenvolvimento da comunidade extremenha, aquele projecto e a sua proposta de construo de uma pequena cidade experimental, entre Lisboa e Madrid, sobretudo dedicada ao estudo e desenvolvimento das novas tecnologias, e cujo "centro paroquial" seria um Museu Virtual (alojado obviamente numa estrutura rgida), teve um excelente acolhimento noticioso e intelectual. A utopia mantem-se de p, mas como todas as utopias tem algo de irrealizvel...Dado o interesse continuado do MEIAC, e muito em especial do seu Director, pelas ideias ento desencadeadas, foi possvel partir para um projecto menos ambicioso mas imediatamente executvel. Refiro-me ao MEIAC_GV, isto , Galeria Virtual do museu. Apresentada no ARCO 2000, o MEIAC_GV foi a primeira Galeria Virtual promovida por um museu ibrico. Um ano depois, e uma vez mais sem paralelo nas instituies ibricas congneres, o MEIAC volta ao ARCO com a sua Galeria Virtual, desta vez, apoiando a realizao de um projecto temtico em volta do tema dos jogos electrnicos. O Seminrio de Arte e Tecnologia promovido pelo mesmo museu ocorre, neste contexto, como uma iniciativa lgica do ponto de vista da convocao das sinergias imprescindveis em processos desta natureza.Estamos a caminho de 2002, vrios museus espanhois comeam agora a encarar seriamente o papel fulcral das novas tecnologias informticas no desenvolvimento da cultura e das artes escala mundial, e por conseguinte o momento ideal para aprofundar a iniciativa pioneira do MEIAC, a que tive o prazer de prestar a minha colaborao.Ao contrrio do que a recesso econmica (e a recente tragdia americana) parecem indicar sobre o futuro das novas tecnologias de informao nas sociedades ps-industriais, o uso da web, do multimdia interactivo, das comunicaes mveis e de todos os dispositivos oriundos da chamada computao ubqua, mudou as nossas vidas e vai continuar a mud-la muito rapidamente. O grande salto, porm, no ser dado, ao contrrio do que alguns analistas de curto prazo previram, pelo advento da nova gerao de telemveis (UMTS), ou pelo desenvolvimento da televiso digital interactiva medida das velhas corporaes televisivas, mas sim pela disponibilizao dos futuros crs de alta resoluo associada ao incremento substancial das velocidades de transferncia dos ficheiros de texto, audio, video e de toda a espcie de objectos digitais. A paisagem meditica est a mudar com a multiplicao dos canais temticos e a progressiva mas inevitvel perda de centralidade da televiso generalista. A paisagem meditica mudar ainda mais quando a segunda vaga da Internet chegar at ns - verdadeiramente multimodal e completamemte personalizvel.No campo da criao literria e artstica, que o nosso tema, talvez seja um bom momento para fazermos todos um balano do que foi feito desde o incio da dcada de 90 e sobretudo desde que o acesso Internet atravs dos computadores pessoais e dos "browsers" se generalizou. Tambm neste domnio no haver retrocesso nos actuais pressupostos tcnicos da nova criatividade: toda a representao objectiva e subjectiva do mundo tender a reproduzir-se na tecnosfera digital - sob a forma de cpia ou eco, mas tambm como duplo gentico, capaz de seguir o seu prprio caminho ciberntico de modo mais ou menos inteligente. A ileteracia computacional e digital tornar-se-, assim, num separador cultural cada vez mais importante. Pensar, imaginar e exprimir o mundo e a vida, entre os humanos, continuar a ser tarefa sua (mesmo se, quando submetida ao imprio das audincias, toda a criao tenda a ser distorcida de modo inesperadamente perverso). A questo que aqui nos traz, porm, a das linguagens, meios e ferramentas usados na confeco das manifestaes culturais - e essa aponta, seguramente, para uma mutao sem precedentes na histria da humanidade.Em "Writing for the Web", Crawford Kilian comea com uma observao que no poderia ser mais oportuna e certeira: "The glory and the curse of the World Wide Web in its first decade is that no one truly understands it." E segue com exemplos: as cadeias de televiso tratam a Web com uma espcie de televiso muito lenta; os jornais usam-na como um jornal estampado na face dum caixote; os negcios tomam-na como uma lista telefnica mais colorida; e assim sucessivamente: uma pgina de texto, uma tela, uma tira BD, um lbum de famlia, uma biblioteca ou um Rolodex.Os artistas contemporneos separaram-se a este propsito: de um lado, esto os que apenas usam a Internet para o seu correio electrnico, chegando por vezes a publicar um portefolio na web; do outro, uma imensa variedade de artistas que experimentam usar o novo "medium" na criao de obras de arte. Deste segundo grupo, devemos ainda distinguir dois sub-grupos importantes: o dos que delegam a migrao das suas ideia artsticas para a web, em programadores, designers e artistas com conhecimentos prticos na matria; e o dos que, no apenas dominam linguagens e ferramentas, mas tambm colocam esses conhecimentos e o estudo constante da cibercultura emergente ao servio de uma verdadeira indagao e experimentao sobre os fundamentos da tecnocultura na era da sua democratizao e globalizao.Nesta espcie de ps-modernismo ciberntico, o campo da arte transformou-se, como muitos outros, num territrio de complexidade. Para lidar com ela os artistas necessitaro de conjugar as suas aptides genticas e a sua educao com um programa muito claro de trabalho, do qual faam parte a crtica sistemtica da arte moderna, a aprendizagem de novas linguagens, o uso de novas ferramentas, e, por fim, a introduo de um novo paradigma criativo nos hbitos da produo cultural: informao-informao-arte.Lanando um breve olhar pelo panoramam portugus do sculo 20, poderemos sem dvida dizer que o isolacionismo geo-poltico, econmico e cultural, somado ao peso da nossa tradio lrica, impediram a consolidao de verdadeiros focos de arte analtica e experimental. H momentos breves de entusiasmo criativo (coincidindo quase sempre com os perodos de juventude dos artistas) que depois acabam por estiolar, dando passagem a acomodaes infelizes ao conservadorismo das instituies e do mercado predominantes. Os casos so conhecidos: as experincias surrealistas de Antnio Pedro e de Fernando Lemos, as mquinas cinticas e situacionistas de Ren Bertholo, os projectos irrealizados de Jlio Bragana e de Fernando Lanhas, o teatro de sombras de Lourdes Castro, os ambientes e envolvimentos de Ana Vieira, ou o ps-concretismo potico de Salette Tavares, Ana Hatherly, Ernesto de Mello e Castro, Antnio Arago e Alberto Pimenta. A utilizao do filme e do vdeo foi meramente conjuntural na trajectria dos artistas que entre ns lhe deram visibilidade: ngelo de Sousa, Julio Sarmento, Fernando Calhau, Jos Conduto, Jos Carvalho, Antnio Palolo, Leonel Moura, Cerveira Pinto, etc. Na era do computador pessoal, Emanuel Dimas Pimenta e Ernesto Melo e Castro realizam uma apropriao ainda muito "modernista" do novo meio, sem porventura compreenderam a mudana de paradigma cultural em curso. O revivalismo vdeo, especialmente quando associado moda "desconstrucionista", ao sistema das "instalaes" e lgica "DJ", toma conta de boa parte da ltima gerao da dcada de 90, que assim deixa passar uma excelente oportunidade de agarrar a revoluo digital em marcha desde 1994-95. As excepes, alis muito recentes, de Andr Sier, Patrcia Gouveia, Miguel Soares, Pedro Reis e poucos mais, confirmam a sintonia que, mal ou bem, a arte portuguesa sempre foi conseguindo com o tempo da criao internacional. Mas o desafio, uma vez mais, ser saber at que ponto esta sintonia no descambar, outra vez, num mero epigonismo passageiro, ou pior ainda, na pura e simples desistncia. A seu favor tm, apesar de tudo, os ventos da histria.O meu trabalho, seguindo uma trajectria de vinte anos em prol de uma arte crtica e responsvel, encontra-se pela primeira vez facilitado. Quer o convite do MEIAC para desenhar e pr de p a sua Galeria Virtual, a qual supe apoiar projectos e adquirir obras conformes ao paradigma digital e "cibernutico"; quer, por outro lado, o desafio que me foi dirigido por Dulce Dagro para continuar a Quadrum nos moldes que fizeram desta galeria de arte uma das principais referncias institucionais da vanguarda artstica portuguesa do ltimo quartel do sculo 20, acabaram por confluir na deciso por mim tomada, em 1994, de olhar para as implicaes das novas tecnologias sobre a cultura em geral e as artes visuais em particular. O facto de estarmos no princpio de algo ( e j no no fim...) no poderia ser melhor estmulo para radicar entre ns um dos ncleos duros de uma arte essencialmente alimentada pela bablia digital que brota convulsivamente da World Wide Web.B) obras portuguesasANDRE SIER"struct_0", instalao-composio av, verso_0, 2001. Na sinopse deste projecto, fornecida pelo autor, ficamos a saber que estamos perante uma aplicao informtica que visa expor visualmente o tecido aural subjectivo de um espao sob a forma de snteses grficas de sistemas de partculas (Reeves, 1983) em sintonia audvel com o som composto. O resultado um resultado audiovisual "site-specific", isto , uma presena de luz e som cujo aspecto dinmico depende do lugar e do momento em que ocorre e usufrudo (o espectador, os espectadores, com a sua simples curiosidade, ajudam a definir a obra...).Ao descrever o processo de formao da obra Andr Sier (um artista que simultaneamente programador) esclarece-nos que o som de um espao prximo captado atravs de um microfone direccional e inserido em tempo-real num computador Macintosh. A aplicao, baseada nos "softwares" MAX/MSP/GEM, mecaniza a captao audvel e executa a composio sonora recorrendo estrutura temporal sonora actual e/ou prxima. O som fonte registado na memria RAM quando certas condies se verificam. Nessa situao, o som poder ou no servir de base de leitura e projeco para o presente da concluso das tcnicas aurais utilisadas. Os processos e algoritmos de manipulao sonora orbitam o universo da anlise temporal -- visando analisar evolues snicas, perspectivar as alteraes espectrais sonoras no presente e passado recente... atravs da modulao por sntese granular sncrone ou assncrone."Asynchronous granular synthesis (AGS) has proven valuable in modeling sounds that would be difficult to describe using earlier techniques. AGS sprays sonic grains into cloudlike formations across the audio spectrum." [Roads, C., "The Computer Music Tutorial", "Multiple Wavetable, Wave Terrain, Granular and Subtractive Synthesis", MIT press, 1995.]A imagem, por sua vez, sintetizada gerando um sistema de partculas que modulado e representado de acordo com o valor espectral da energia sonora do som. Esses valores sero utilizados directamente ou construindo novos valores atravs de operaes da teoria dos conjuntos: interseces, unies, complementos, diferenas... nmeros esses que so devidamente mapeados para o universo visual, controlando rotaes, velocidades, raios e eixos de projeco, envolvendo a ris num perptuo jogo."Reeves initially used the term particle systems do describe a method he used to create a sequence of images for the movie "Star Trek II: The Wrath of Khan". The effect he was trying to create was that of a bomb exploding on the surface of the planet and fire spreading out from the point of impact to eventually engulf the planet. Each particle in this system was a single point in space. The fire was represented by thousands of this individual points. (...) Reeves calls an object made up of particles a fuzzy object." [Allen,M., "particle systems", http://www.cs.wpi.edu/~matt/courses/cs563/talks/psys.html]Sendo ainda uma extenso da mente e um dispositivo criativo essencialmente subjectivo - isto , que no visa demonstrar coisa alguma, mas tornar presente essa nova aura inteligente e omnipresente a que poderamos talvez chamar "tecnofania" -, a ideologia que subtende a aproximao crescente de muitos artistas actuais aos fundamentos computacionais de uma arte geneticamente interactiva dever talvez ser entendida como a continuao - julgada improvvel pelos ps-modernos mais pessimistas - desse realismo constructivista (Pevsner, Gabo, Tatlin, etc.) que esteve na origem de toda a abstraco crtica do sculo 20. A msica contempornea h muito que iniciou esta indagao experimental. Faltava ligar a "pintura" (quer dizer, o mundo das imagens visuais, ou melhor dito ainda, o mundo das manifestaes da subjectividade concreta que conduzem chamada "arte") a este movimento de renovao esttica. A obra de Andre Sier, entre outras, prova que algo de muito importante comeou a mexer nesta rea.ANTONIO CERVEIRA PINTO"Un Caso Notable, portal n.1", instalao multimdia, 2000--- Esta instalao foi encomendada para a estreia da Galeria Virtual do MEIAC, a qual teve lugar em Madrid durante a ARCO 2000. O projecto aproveitou uma parede com 33 metros de comprimento, transformando-a num longo mural interactivo. Na ponta esquerda foi afixado o esquema do relgio contemplativo da Ordem dos Carmelitas do Deserto (entidade intimamente ligada histria mtica de Las Hurdes, a que este projecto se refere). Entre esta imagem da diviso do dia e da noite e uma outra verso, "actualizada", ou "filosfica", do diagrama -- a mesma roda do tempo, com a mesma marcao dos tempos, mas sem a mesma disciplina -- foram cravados na parede 8 lages de xisto negro (oferecidas pela pedreira extremenha Pizarras del Rey), sobre as quais pousaram outros tantos computadores (Apple G4 com crs TFT) ligados Internet. Por cima dos computadores corria a palavra "desierto" escrita do avesso, numa aluso crptica ao seu significado contraditrio: o deserto, a recluso, o abandono e o castigo, como estigmas negativos de Las Hurdes e de todos os stios abandonados deste Mundo; mas tambm o deserto, a solido contemplativa, a natura imaculada, a pobreza material da filosofia e, enfim, o paraso da unio extrema entre ser e existir, como factos de uma percepo mais rica e complexa do lugar temporariamente obscurecido pelo projecto que Buuel levou a cabo retomando a ideia original de um trotskista francs que as autoridades espanholas do tempo no deixaram entrar no Pas. Numa piscadela de olhos lanada por Antnio Cerveira Pinto a Richard Long, deparamo-nos com uma ltima lage de xisto (a lage 9), vertical, encostada ao mural, antecipando a pose dos milhares de visitantes da feira de arte que ao longo da semana iriam repousar naquele interstcio. Terminando a sequncia, vemos a ampliao fotogrfica da imagem digital de uma curva de estrada, realizada durante uma das incurses do autor a Las Hurdes. A imagem est ladeada por inscries em latim, com as correspondentes verses castelhanas, impressas do avesso: "Et in Arcadia ego" / "Esto es el Paraso" e "Morituro Satis" / "Para quin ha de morir, suficiente". Concluindo esta espcie de porta filosfica da Galeria Virtual do MEIAC ("portal n.1"), cada computador inactivo activa um "screen saver" com imagens modificadas do filme "Las Hurdes, Tierra sin Pan". Interrompida a estabilidade do ambiente ciberntico, surge um menu de acesso, quer continuao de "Un Caso Notable..." (espcie de contraponto turstico ao humor negro de Buuel), quer ao conjunto de obras dos 7 artistas espanhois e portugueses especialmente convidados para a fundao da Galeria Virtual do MEIAC: Clia Quico, Dora Garcia, Eva Mota, Maite Cajaraville, Patricia Gouveia, Ricardo Iglesias, Roberto Aguirrezabala.Esta instalao funciona, pois, como um dispositivo metafrico pendular, a partir do qual se passa da memria difusa de "Las Hurdes, Tierra sin Pan" de Buuel a uma viso paradisaca da actual reserva ecolgica e atraco turstica. Os espao, mesmo quando so eternos, ou precisamente quando se tornam referncias recorrentes, permitem um sem nmero de apropriaes, olhares, imaginaes e sonhos. Este o da devoluo da serenidade e mistrio que lhe pertencem desde tempos imemoriais.CELIA QUICO"Senses", aplicao multimdia interactiva, 1998 (fragmento do projecto inicial especialmente adaptado para a Web)-- Na origem, foi desenvolvido como uma aplicao para CD-ROM, no mbito de uma ps-graduao levada a efeito no Canad. Trata-se de um percurso muito "Pop" sobre as sociedades tecno-mediticas actuais, organizado como uma cornucpia, ou melhor dito, como um jogo rizomtico de textos, imagens, sons, e animaes humorsticas em volta da chamada Sociedade do Espectculo. Essa sociedade obsessiva, consumista, frentica, ertica e pasmada sobre a qual to bem escreveu Guy Dbord. Seguramente, um dos primeiros projectos multimdia portugueses executado com o recurso intensivo s possibilidades tecnolgicas e interactivas do programa Director. Destaque-se tambm o uso igualmente pioneiro do QuickTime VR. E, por fim, a perfeita integrao de linguagens e de mdia nesta divertidssima introspeco ps-moderna.EVA MOTA"Flaming 2", video digital/ verso para web, 2000-- Esta pea traduz, no caso portugus, uma das primeiras migraes da chamada "video art" para a web. Na origem, "Flaming 2" foi apresentada como uma instalao vdeo. Um monitor, colocado no meio de uma galeria de arte (a Quadrum), passa continuamente um "loop" cujo contedo uma figura feminina danando no meio de fumos espectrais de tons rosa, vermelho e violeta. No sabemos se estamos diante de uma evocao da deusa Shiva/Parvati (a deusa oriental, andrgena, guerreira e csmica, purificada pelas cinzas da destruio criativa, e que toma vrias formas, temperamentos, gneros e nomes: Kali, Laksmi, Shri, Durga,...), se na presena de uma estrela Pop desconhecida, ou ainda diante de uma evocao da interminvel Fashion TV. Uma rapariga cujos membros e aparncias se multiplicam continuamente ao longo de uma dana graciosa e insistente parece evocar a prpria ideia de uma feminilidade hermafrodita como origem e magma da vida. A espiritualidade ressuscitada num "video clip"...A adaptao do video para o formato QuickTime obrigou a uma reduo do ciclo do "loop" e a uma compresso da informao. Este constrangimento parece, todavia, reforar a intensidade dramtica do projecto, semelhana do que ocorre com os "loops" e os "samples" usados pelos DJs e por muita da msica apropriacionista actual. Por outro lado, a geometria varivel da janela QuickTime permite ao usurio da obra interferir no aspecto da mesma, isto , o cr do computador, ao contrrio de um simples monitor de televiso, acaba por revelar-se como uma paisagem multimodal e interactiva. Podemos ampliar ou encolher a janela, podemos arrumar a janela QT num cr povoado por outras aplicaes (textos, mais vdeos, imagens, folhas de clculo...). Por esta verdadeira brecha do espao digital comea a passar uma arte de tipo novo.PATRICIA GOUVEIA"Soong Sisters", aplicao web, 2001-- Este projecto foi concebido especificamente para a web, recorrendo linguagem prpria da Internet - o HTML - e ao Flash, um programa especializado na interaco dos componentes multimdia da Web: animao de imagem e som. O seu contedo a histria das famosas irms Soong : Ai-ling , Ching-ling e May-ling, filhas do milionrio Charlie Soong, que ganhou a sua fortuna a vender bblias na China. Das 3 irms Soong se disse: que a do meio (Ching-ling) amava a China, dado o envolvimento poltico decorrente do seu casamento com o revolucionrio Sun Yat-sen; que a mais nova (May-ling) amava o poder, dado o seu envolvimento social e o casamento com o general Chiang Kai-Shek; e finalmente da mais velha (Ai-ling), que amava o dinheiro, dado o seu envolvimento econmico e o casamento com o ministro das finanas H.H. Kung. Um dos irmos Soong, T.V. Soong, foi alis considerado o homem mais rico do mundo na dcada de 40/50. A dinastia soong "reinou" durante quase um sculo, controlando a poltica, a economia e a sociedade chinesa, com influentes ramificaes no sub-mundo chins e nos "gangs" que o controlavam.Tal como outras trs obras suas ("Ruptura", "Between poets" e "Jizo"), "Soong Sisters" usa o multimdia como uma plataforma para o desenvolvimento de pseudo narrativas interactivas e multimodais, com uma coernia a que parece faltarem texto e sintaxe, baseadas numa espcie de jogo do qual desconhecemos as regras e o propsito. Os actores e os argumentos - por vezes importados de fontes literrias tradicionais, como o romance, a poesia e a biografia - so dispostos no tabuleiro digital de forma catica, ou s aparentemente lgica, para que o leitor/jogador se possa entreter na reconstruo da tecitura original ou descobrir novas combinatrias narrativas. Em "Soong Sisters", tal como nas outras j citadas, ou ainda em "Blind Game", o hipertexto permite sintetizar uma viso ciberntica do mundo filtrada pelas experincias pessoais e pelas vivncias culturais da artista. Ao contrrio de todo o multimdia didctico, ainda que sob a sua aparncia, Patrcia Gouveia vem desenvolvendo em Portugal uma experincia muito interessante de reconstruo da linguagem a partir da convergncia dinmica entre oralidade, escrita, iconografia e comunicao interactiva. Como oportunamente escreve Maria Teresa Cruz em "Navegar - De regresso (s) base(s)", as "projecces de bases de dados" de Patrcia Gouveia foram "a uma constatao aparentememnte simples: a estrutura essencial do ciberespao a da coleco de elementos que podem ser textos, imagens, sons, etc., sem formar qualquer espcie de totalidade, sem nada que os unifique ou os envolva". A "estrutura descontnua das bases de dados" (MTC) encontra, pois, no espao dito rizomtico da Internet o lugar ideal para a sua proliferao ideolgica. No ciberespao cada realidade uma uma realidade informtica ("data") unindo momentaneamente - por vezes nos dois sentidos - um emissor (endereo do servidor/do directrio/do ficheiro) e um receptor (endereo do cliente). As bases de dados so casulos de realidade potencial e o ciberespao um mundo povoado de "buracos negros". necessrio um "clique" para que a a percepo e a conscincia despertem do caos que antecede cada pedido frentico de informao. O resultado, bom o resultado depende de ns...PEDRO REIS"Zenith of Self Critical Fullfilment", video digital/ versin para web, 1999-- Nesta pea, o autoretrato do artista o resultado da simetria formada a partir de uma s metade da sua face. Ao no revelar qual das metades a verdadeira, o artista interroga com alguma ironia a nossa capacidade de discernimento, aludindo confuso crescente entre "mundos reais" e "mundos virtuais". Definir uma tal fronteira pode pois passar pelo reconhecimento das nossas prprias imperfeies e pelo apuramento dos processos de auto-conhecimento e reflexo crtica...A imagem, que na realidade um pequeno filme QuickTime em "loop", parece um "still" fotogrfico. No entanto, com o passar dos segundos, notamos que a mesma cintila ( maneira de alguns desenhados animados), que a sua simetria se vai revelando como uma estranha unidade suturada. Se expandirmos a janela do QuickTime TV poderemos observar claramente o autoretrato como uma simetria em movimento perptuo. Repare-se nas pontas dos cabelos, ou ainda no sinal facial que aparece e desaparece. Estamos pois diante de um movimento subliminar e de um filme digital sobre as iluses e limites da percepo distrada. Numa outra obra sua, "Kerze (1983- )", Pedro Reis toma por referncia uma conhecida pintura de Gehrard Richter cujo tema uma vela acesa. O paradoxo da pintura - contrariar a entropia de uma vela consumida pelo tempo - de novo reforado por uma sequncia video que descreve aquela mesma manifestao da Segunda Lei da Termodinmica, congelada desta vez num "loop" de aparente eternidade. Podemos dizer, para ambos os casos, que o Vdeo, a Internet, a Comunicao e a Interaco regressam, em ltima instncia, Pintura! No existe percepo fora da linguagem, como no h linguagem fora do vai-e-vem do conhecimento. A Pintura, isto , o que dela resta como possibilidade, no assim tanto uma questo de desenho, cor e gordura, mas de teoria (ou contemplao, para usar uma expresso mais antiga).C) endereos-- uma nova erahttp://www.rhizome.org/http://www.nettime.org/http://www.thing.net/ http://www.generative.net/http://www.eusocial.com/ http://www.abnormalbehaviorchild.com/http://www.theremediproject.com/http://www.no-such.com/http://www.ljudmila.org/~vuk/ http://www.critical-art.net/ http://www.thing.net/~rdom/main_display.html http://www.obn.org http://www.dextro.orghttp://wwwwwwwww.jodi.org/http://www.metamute.com/http://www.motherJones.com/http://www.zmag.org/http://www.salon.com/http://www.suck.com/ http://www.desires.com/http://www.transmag.org/http://www.ctheory.com/http://www.textz.com/ http://www.maedastudio.com/http://www.djspooky.com/http://www.warprecords.com/http://www.soundlab.org/ http://www.mego.at/-- guerra electronicahttp://www.iwar.org.uk/http://www.wildlist.org/http://www.thehacktivist.com/-- museus na Internethttp://www.walkerart.org/ http://www.sfmoma.org/http://whitney.org/artport/http://www.moma.org/http://www.guggenheim.org/http://www.tate.org.uk/http://www.modernamuseet.se/http://www.meiac.org/http://www.macba.es/ http://www.cgac.org/-- velhas galerias tentam adaptar-se nova era...http://www.whitecube.comhttp://www.mariangoodman.com/http://www.doffay.com/http://www.gagosian.com/http://www.galeriaquadrum.com -- as velhas revistas, tambm !http://www.frieze.com/http://www.artforum.com/http://www.temaceleste.com/-- agregadores...http://www.artnet.com/http://www.e-flux.com/http://www.w3art.es/